Feito por Gil Vicente, representado ao muito alto e mui poderoso rei dom João o terceiro, no seu convento de Tomar. Era do Senhor de 1523.
O seu argumento é um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube. As figuras são as seguintes: Inês Pereira, sua Mãe, Lianor Vaz, Pero Marques, dous judeus, um chamado Latão e outro Vidal, um Escudeiro com um seu Moço, um Ermitão.
Entra logo Inês Pereira e finge que está lavrando só em casa, e canta esta cantiga:
Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
01c
qué hará cuando no os viere?
e do primeiro que o usou,
e que raiva e que tormento,
que cegueira e que canseira.
Eu hei de buscar maneira
10
Coitada, assi hei d’estar
que sempre está num lugar.
15
E assi hão de ser logrados
e assi hei d’estar cativa
de jazer sempre dum cabo.
Esta vida é mais que morta.
30
que nam sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
01d
Vem a Mãe da igreja e não na achando lavrando diz:
lá na missa onde eu estava,
40
Ui, naceu-te algum unheiro
ou cuidas que é dia santo?
45
Choram-te os filhos por pão?
Mãe
Ora espera assi, vejamos.
Inês Pereira
Quem já visse esse prazer.
e filhos de três em três.
65
Inês Pereira
Quero-m’ora alevantar.
Folgo mais de falar nisso,
Inês Pereira
E ela vem-se benzendo.
Lianor Vaz
Jesu que me eu encomendo,
Mãe
Lianor Vaz, que é isso?
75
Lianor Vaz
Venho eu, mana, amarela?
Não sei se me vá a el rei,
80
Mãe
E como? Tamanho é o mal?
Lianor Vaz
Tamanho, eu to direi.
e um clérigo, mana minha,
se era eu fêmea se macho.
90
Quando o vi pegar comigo
02b
que me achei naquele perigo:
Jesu, homem, que hás contigo?
Quando viu revolta a voda
outro no tempo da poda.
110
sem ser rouca bradara eu,
O demo, e não pode al ser, 130
Mãe
Mana, conhecia-t’ele?
02c
Lianor Vaz
Mas queria-me conhecer.
Mãe
Vistes vós tamanho mal.
Lianor Vaz
Eu me irei ao cardeal
135
e contar-lh’-ei a aventura
Lianor Vaz
Eu tenho as unhas cortadas
e mais pera que era isso?
que em vê-lo vi o paraíso.
Porém, a falar verdade,
150
tu nam vês que sam casada?
com grande amor que vos tenho,
Lianor Vaz
Em nome do anjo bento
eu vos trago um casamento.
180
Inês Pereira
E quando, Lianor Vaz?
Lianor Vaz
Já vos trago aviamento.
que assi o tenho assentado.
Lianor Vaz
Eu vos trago um bom marido,
rico, honrado, conhecido.
190
Diz que em camisa vos quer.
Inês Pereira
Primeiro eu hei de saber
Lianor Vaz
Nesta carta que aqui vem
pera vós, filha, d’amores 195
Inês Pereira
Mostrai-ma cá, quero ver.
03a
Lianor Vaz
Tomai. E sabeis vós ler?
Mãe
Ui, e ela sabe latim
200
Lê Inês Pereira a carta, a qual diz assi:
Senhora amiga Inês Pereira:
que ora estou na nossa aldea, 205
me encomendo, e mais digo:
que vos fez de tam bom jeito,
bom prazer e bom proveito
210
nem cantar presente mi...
Lianor Vaz
Lede a carta sem dó
220
Torna Inês Pereira a prosseguir com a carta:
...Nem cantar presente mi
Ora Inês que hajais benção
225
E rogo-vos como amiga,
03b
que de parte me faleis
230
antes que outrem vo-lo diga.
e Lianor Vaz de presente.
Veremos se sois contente
235
nam vi tal vilão com’este
que não é tempo d’escolher.
e bô é o asno que me leva.
Lianor Vaz
Filha, no Chão do Couce
255
quem nam puder andar choute,
e mais quero quem me adore
que quem faça com que chore.
Mãe
Touca-te bem se vier
265
pois que pera casar anda.
Inês Pereira
Essa é boa demanda.
homem que tal carta manda?
Eu o estou cá pintando,
270
Aqui vem Pero Marques, vestido como filho de lavrador rico, com um gabão azul deitado ao ombro, com o capelo por diante, e vem dizendo:
Homem que vai onde eu vou
275
que eu em meu siso estou.
Olhai que me esquece a mi. 280
Chega Pero Marques aonde elas estão e diz:
Folguei ora de vir cá,
285
assi que... e de maneira... 03d
Pero Marques
E que val aqui ũa destas? 290
Inês Pereira
Oh Jesu, que Jão das Bestas,
Assentou-se com as costas pera elas e diz:
Eu cuido que não estou bem.
Mãe
Como vos chamam, amigo?
Pero Marques
Eu Pero Marques me digo
295
como meu pai que Deos tem.
Faleceu, perdoe-lhe Deos,
Mãe
De morgado é vosso estado?
Pero Marques
Mais gado tenho eu já quanto
digo maior algum tanto
305
com Inês, que eu me espanto
quem me fez seu namorado.
a segundo o que eu entendo.
Cuido que lhe trago aqui
315
hão d’estar na derradeira.
Inês Pereira
E isso hei de ter na mão?
três chocalhos e um novelo,
Pero Marques
Nunca tal me aconteceu.
325
Pois trazi’-as de boa mente.
330
Inês Pereira
Fresco vinha o presente
com folhinhas borrifadas.
cá no fundo, no mais quente.
Vossa mãe foi-se, ora bem.
335
quant’eu quero-me ir daqui
não diga algum demo alguém.
Inês Pereira
E vós que havíeis de fazer,
nem ninguém que há de dizer?
340
Pero Marques
Se eu fora já casado
doutra arte havia de ser,
Pero Marques
Vossa mãe é lá no muro?
Inês Pereira
Minha mãe eu vos seguro
350
Pero Marques
Pois senhora quero-m’ir
antes que venha o escuro.
Inês Pereira
E nam cureis mais de vir.
Pero Marques
Virá cá Lianor Vaz,
355
veremos que lhe dizeis.
04b
até que vós nam queirais.
Estas vos são elas a vós,
anda homem a gastar calçado
365
e quando cuida que é aviado
Inês Pereira
Olhai se o levou o gato.
e vos acha só a tal hora,
375
Inês Pereira
Pessoa conheço eu
que levará outro caminho.
mais covarde que um judeu.
385
Se fora outro homem agora
Pero Marques foi-se já?
04c
que sempre disse e direi:
395
Que seja homem mal feito,
400
nam lhe quero mais proveito.
e coma eu pão e cebola,
405
Mãe
Sempre tu hás de bailar
e sempre ele há de tanger?
410
o tanger te há de fartar.
Inês Pereira
Cada louco com sua teima,
Mãe
Como às vezes isso queima.
E que é desses escudeiros?
Inês Pereira
Eu falei ontem ali,
Aqui entram os judeus casamenteiros, chamados um Latão e o outro Vidal, e diz Vidal:
Inês Pereira
Quem está lá?
Vidal
Nome del Deu, aqui somos.
tal friúra e tal canseira
que trago as tripas maçadas,
que me saltou caganeira.
435
Todo este mundo é fadiga,
440
vós dissestes, filha amiga,
que vos buscássemos logo...
Vidal
E logo pusemos fogo.
nam sou eu também do jogo? 445
Latão
Nam fui eu também contigo,
nam somos massa dum trigo?
Senhora há já três dias...
Latão
Falas-lhe tu ou eu falo?
Que foste, que fomos, que ias
455
Vidal
Vós, amor, quereis marido
que quer casar por sentido.
460
Latão
Deixo, não quero falar.
vencera o Tejo e o mar.
465
Eu cuido que falo e calo,
Inês Pereira
Jesu, guarde-me ora Deos, 470
Mãe
Que siso, Inês, que siso
tens debaixo desses véus.
o que nam haveis de comer
Mãe
Eu nam sei quem t’aconselha.
Inês Pereira
Enfim, que novas trazeis?
Vidal
O marido que quereis,
480
este fora o verdadeiro,
05b
mas soltou-se-nos da noz.
e trazei-me essa senhora.
Inês Pereira
Tudo é nada, enfim.
Vidal
Esperai, aguardai ora.
Que fala, e com’ora fala,
e tange, e com’ora tange,
alcança quanto abrange,
500
Vem o Escudeiro com seu Moço, que lhe traz ũa viola, e diz falando só:
como os judeus ma gabaram
certo os anjos a pintaram
Diz que os olhos com que via
tudo essoutro passaria.
510
se é garrida se é honesta,
05c
Mãe
Se este escudeiro há de vir
520
E mais, Inês, nam muito olhar
por que te julguem por muda,
Escudeiro
Olha cá Fernando, eu vou
ver a com que hei de casar,
530
sem barrete onde eu estou.
Moço
Como a rei, corpo de mi,
Escudeiro
E se cuspir, pola ventura, 535
põe-lhe o pé e faze mesura.
Moço
Porém, senhor, digo eu
que mau calçado é o meu
545
Escudeiro
Que farei, que o sapateiro
nam tem solas nem tem pele? 05d
se me vós désseis dinheiro.
550
Escudeiro
Eu o haverei agora,
e mais calças te prometo.
Chega o Escudeiro onde está Inês Pereira e alevantam-se todos e fazem suas mesuras, e diz o Escudeiro:
Antes que mais diga agora,
555
Deos vos salve fresca rosa
e vos dê por minha esposa,
que vós sois minh’alma, aquela
que eu busco e que desejo.
em vos dar tal condição,
565
muito mais que a riqueza.
outra tal nam se acontece.
se vós vos não contentais
575
Vidal
Mas ela como se cala.
Latão
Este há de ser seu marido
e quanto a tanger viola
590
Moço, que estás lá olhando?
Moço
Que manda vossa mercê?
Escudeiro
Pera fazeres o que mando. 595
Escudeiro
Fui despedir um rapaz,
que coma pão e cebola.
06b
Escudeiro
Faria bem de ta quebrar
Moço
E se ela é emprestada
Escudeiro
E quando queres partir?
Moço
Antes que venha o Inverno
porque vós não dais governo
Escudeiro
Nam dormes tu que te farte?
Moço
No chão e o telhado por manta,
que Inês está no paraíso.
Inês Pereira
Que tendes de ver com isso?
Todo o mal há de ser meu.
Inês Pereira
Como é seca a velhice.
635
que nam me hei de contentar
Mãe
Muitas vezes, mal pecado,
Latão
Ora ouvi e ouvireis.
Canta o Judeu:
Canas do amor canas
Canta o Escudeiro o romance de Mal me quieren en Castilla, e diz Vidal:
Latão, já o sono é comigo
Latão
Esse é o demo qu’eu digo.
Podeis topar um rabugento,
Mãe
Quero rir com toda a mágoa
destes teus casamenteiros,
nunca vi judeus ferreiros
680
que te ganhe nessa praça,
que é um escravo de graça
685
Latão
Senhora, perdei cuidado.
O que há de ser há de ser
o que está determinado.
690
Inês Pereira
Jesu, nome de Jesu,
quam fora sois de feição. 695
Escudeiro
Dai-me essa mão, senhora.
Inês Pereira
Senhor, de mui boa mente.
Escudeiro
Por palavras de presente
vos recebo desd’agora.
07a
Eu, Brás da Mata, escudeiro,
recebo a vós, Inês Pereira,
como manda a santa igreja.
Inês Pereira, recebo a vós,
Brás da Mata, sem demanda,
como a santa igreja manda.
Latão
Juro al Deu, aí somos nós.
Os Judeus ambos
Alça manim, dona o dono há,
715
Escudeiro
Oh quem me fora solteiro.
730
Inês Pereira
Já vos vós arrependeis?
Aqui vem a Mãe com certas moças e mancebos pera fazerem a festa, e diz ũa delas per nome Luzia:
Inês, por teu bem te seja.
07b
Oh que esposo e que alegria.
735
e bailareis três por três.
Fernando
Tu connosco, Luzia, aqui
740
Cantam todos a cantiga que se segue:
sola va y gritos daba.
745
Sola va y gritos daba.
750
Fernando
Ora, senhores honrados,
com que vivais descansados.
mas melhor será outr’hora,
foi pouco e de boa mente.
Com vossa mercê, senhora.
Luzia
Ficai com Deos, desposados, 760
com que sejais bem logrados.
Mãe
Ficai com Deos, filha minha,
vos dou e vou-me à casinha.
Senhor filho e senhor meu,
pois que já Inês é vossa,
770
E pois que dês que nasceu
que lhe tenhais muito amor,
Ida a Mãe, fica Inês Pereirae o Escudeiro, e senta-se Inês Pereiraa lavrar e canta esta cantiga:
pero tan poco os mirara.
780
O Escudeiro vendo cantar a Inês Pereira, mui agastado lhe diz:
Vós cantais, Inês Pereira,
em bodas me andáveis vós?
que esta seja a derradeira.
se vós disso sois servido
Escudeiro
Mas é bem que o escuseis
790
Inês Pereira
Por que bradais vós comigo?
07d
Escudeiro
Será bem que vos caleis.
que não me respondais nada
795
com homem nem molher que seja, 800
Já vos preguei as janelas
por que vos não ponhais nelas,
estareis aqui encerrada
805
Inês Pereira
Que pecado foi o meu?
Por que me dais tal prisão?
Que mal faço em guardar isso?
se eu disser isto é novelo
havei-lo de confirmar.
820
que aquilo que eu quiser.
825
Moço
Se vós tivésseis dinheiro
Escudeiro
Tu hás de ficar aqui,
830
Fechá-la-ás sempre de fora.
Moço
Com o que me vós deixais
835
Escudeiro
Vai-te tu por essas vinhas,
ir-m’-ei espojar às eiras.
845
Escudeiro
Vai-te por essas figueiras
Escudeiro
Pois que cuidavas?
Ido o Escudeiro, diz o Moço:
Senhora, o que ele mandou
08b
Inês Pereira
Pois que te dá de comer
855
faze o que te encomendou.
Vós perdoai-me, senhora,
860
porque vos hei de fechar.
Aqui fica Inês Pereirasó, fechada, lavrando e cantando esta cantiga:
Quem bem tem e mal escolhe
por mal que lhe venha nam s’anoje.
que sempre cuidei que nisso
Cuidei que fossem cavaleiros,
sem lhe dar de paz um dia.
nem mouro que chamem Ale,
880
Juro em todo meu sentido
08c
que eu saiba escolher marido,
885
à boa fé, sem mal engano,
deste mal e deste dano.
890
Entra o Moço com ũa carta de Arzila e diz:
creo que é de meu senhor.
Inês Pereira
Mostrai cá, meu guarda mor,
Moço
Vosso irmão está em Arzila,
nova de meu senhor também.
Inês Pereira
Já ele partiu de Tavila?
Moço
Há três meses que é passado.
Inês Pereira
Aqui virá logo recado
se lhe vai bem ou que faz.
905
Moço
Bem pequena é a carta assaz.
Inês Pereira
Carta de homem avisado.
Lê Inês Pereiraa carta, a qual diz:
de querer o que Deos quer.
de cousa que o mundo faça,
que sempre nos embaraça
915
o matou um mouro pastor.
920
Moço
Oh meu amo e meu senhor.
Inês Pereira
Dai-me vós cá essa chave
Moço
Oh que triste despedida.
e matou-o um mouro só.
930
pois tam caro há de custar.
Aqui vem Lianor Vaz e finge Inês Pereira estar chorando, e diz Lianor Vaz:
Como estais, Inês Pereira?
940
09a
Inês Pereira
Muito triste, Lianor Vaz.
Lianor Vaz
Que fareis ao que Deos faz?
Inês Pereira
Casei por minha canseira.
Lianor Vaz
Se ficastes prenhe basta.
Inês Pereira
Bem quisera eu dele casta
945
mas nam quis minha ventura.
que a morte a todos gasta.
Quem perdeu um tal marido,
e tam amigo de minha vida... 955
Lianor Vaz
Dai isso por esquecido
Pero Marques tem que herdou
mas vós quereis avisados.
960
Inês Pereira
Nam, já esse tempo passou.
Sobre quantos mestres são
Lianor Vaz
Pois tendes esse saber,
querei ora quem vos quer,
965
Vai Lianor Vaz por Pero Marques e fica Inês Pereirasó, dizendo:
Andar. Pero Marques seja.
de cada vez que me veja.
970
09b
antes lavrador que Nero.
975
Vem Lianor Vaz com Pero Marques, e diz Lianor Vaz:
Nô mais cerimónias agora,
Quanta a dizer abraçar,
980
Inês Pereira
Nam lhe quero mais saber,
Lianor Vaz
Ora dai-me essa mão cá.
985
Lianor Vaz
Ora dizei como digo.
Pero Marques
E tendes vós aqui trigo
990
que me cortem as orelhas.
Vai-se e diz Inês Pereira:
Marido, sairei eu agora
09c
que há muito que nam saí? 1000
que eu me irei para fora.
Inês Pereira
Ir folgar onde eu quiser.
1005
vinde quando quiserdes vir,
estai quando quiserdes estar.
Com que podeis vós folgar
que eu nam deva consentir? 1010
Vem um Ermitão a pedir esmola, que em moço lhe quis bem, e diz:
me metí en su santo templo,
tristeza en quien contemplo,
1020
mis servicios y mis daños,
donde tú, mi alma, lloras
el fin de tantos engaños.
1025
las horas todas, llorando,
tomo las cuentas una a una
con que tomo a la fortuna
cuenta del mal en que ando
1030
09d
sirvo allí mis días Copido,
con tanto amor sin mudanza
1035
que soy su santo escogido.
los que bien os va d’amores
dad limosna al sin holgura
que habita en sierra escura,
1040
en que mis sentidos traigo,
que recibáis mejor pago
1045
que Dios os libre d’engaño,
1050
pues para siempre es mi daño.
Inês Pereira
Olhai cá, marido amigo,
Inês Pereira
Tomai a esmola padre lá,
1060
pois que Deos vos trouxe aqui.
Ermitão
Sea por amor de mí
Deo gracias mi señora.
10a
La limosna mata el pecado
1065
que por vos soy ermitaño,
1070
me hicieron vestir tal paño.
Inês Pereira
Jesu, Jesu, manas minhas,
sois vós aquele que um dia
1075
eu era ainda Inesinha
1080
Ermitão
Señora, téngoos servido
Haced que el tiempo pasado
no se cuente por perdido.
1085
Inês Pereira
Padre, mui bem vos entendo,
que bem sabeis vós pedir.
que eu irei um dia destes,
Ermitão
Señora, yo me voy en tanto.
Marido, aquele ermitão
10b
Inês Pereira
Sabeis vós o que eu queria?
1100
Inês Pereira
Que houvésseis por prazer
Pero Marques
Seja logo sem deter.
Inês Pereira
Este caminho é comprido,
1105
Inês Pereira
Passemos primeiro o rio.
Inês Pereira
E levar-me-eis ao ombro,
1110
não me corte a madre o frio.
Põe-se Inês Pereiraàs costas do marido e diz:
Pero Marques
Ides à vossa vontade?
Inês Pereira
Como estar no paraíso.
Pero Marques
Muito folgo eu com isso.
1115
Pero Marques
Quereis que as leve?
Cantemos marido, quereis?
Inês Pereira
Pois eu hei só de cantar
e vós me respondereis
1125
Carregado ides noss’amo
1135
sempre fostes percebido
1140
E assi se vão e se acaba o dito auto.